Governador confirma proposta de aumento do ICMS para 19%

Governador confirma proposta de aumento do ICMS para 19%

Foto: Maurício Tonetto

Em reunião com deputados da base aliada e entidades empresariais na manhã desta quinta-feira (11), o governador Eduardo Leite (PSDB) apresentou um novo pacote de estímulo ao desenvolvimento econômico e à sustentabilidade fiscal do Estado. Entre as medidas, está o encaminhamento de um projeto para a Assembleia Legislativa que prevê o aumento da alíquota geral do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de 17% para 19%.


No final do ano passado, o Piratini apresentou proposta parecida, porém o percentual de reajuste era de 19,5%, mas sem apoio, inclusive, da sua base, Leite retirou o projeto e cortou incentivos fiscais para compensar a receita.


Agora, com o respaldo de um movimento adotado por mais de 20 entidades federativas neste ano, conforme o Piratini, a proposta de aumento da alíquota novamente é apresentada. A medida é considerada fundamental para atingir o equilíbrio das contas públicas, impactadas por decisões nacionais como a Lei Complementar 194/2022, que reduziu as alíquotas de ICMS sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações.


+ Entre no canal do Diário no WhatsApp e confira as principais notícias do dia


Construído em diálogo com representantes dos setores produtivos e da sociedade civil, o plano é estruturado a partir de três eixos – regularidade e conformidade tributária, incentivo à competividade e sustentabilidade fiscal – e abrange medidas focadas que pretendem impulsionar a produtividade e fortalecer as bases da arrecadação estadual.


– Penso que tiramos proveito de todo esse processo. De um lado, as entidades compreenderam que precisamos da receita; de outro, melhoramos a compreensão do governo sobre os impactos que as medidas teriam. E o que estamos desenhando agora não é simplesmente uma retomada da proposta inicial. Desenhamos algo novo, diferente, que começa por evitar o que, na visão das entidades, é pior: os decretos de revisão. Construímos uma solução alicerçada em três pilares, promovendo uma série de ações para incentivar a regularidade e a conformidade tributária, a competitividade, e garantir a sustentabilidade fiscal do Estado – avaliou Leite.


Débitos

Uma das iniciativas consiste na ampliação do estímulo à regularização de débitos fiscais pelos contribuintes. Inspirado em práticas tributárias internacionais bem-sucedidas, o Estado criará condições legais para reduzir litígios judiciais, facilitar a continuidade dos negócios e agilizar a recuperação de receitas por meio de acordos entre o Estado e seus devedores. As iniciativas buscarão resolver disputas judiciais complexas e recolher valores de dívidas ativas consideradas de difícil recuperação.


Os programas de conciliação oferecerão descontos que podem chegar a 70% dos valores das dívidas, com a opção de parcelamento em até 145 meses. As medidas serão acompanhadas pelo reforço na integração entre a Secretaria da Fazenda e a Procuradoria-Geral do Estado, com uma estimativa de potencial recuperação, por meio das negociações, de R$ 300 milhões em 2024.


Além disso, o governo expandirá o programa Nos Conformes RS, que incentiva a regularização tributária com ações de fiscalização orientativa. A iniciativa promoverá – e premiará – o bom comportamento tributário dos contribuintes e fortalecerá a concorrência justa no mercado, o que contribuirá para a ampliação do investimento privado e garantirá recursos para investimentos estatais em projetos prioritários para o setor produtivo. Uma das medidas do programa é a classificação dos contribuintes do Imposto sobre Circulação de Bens e Serviços (ICMS) por categorias baseadas em critérios de desempenho tributário, com oferta de contrapartidas.


No campo da competitividade, o pacote inclui o ajuste de parte dos benefícios fiscais concedidos pelo Estado. Uma das medidas prevê a exclusão do Fator de Ajuste de Fruição (FAF), beneficiando 31 setores produtivos. Adotado em 2022, o mecanismo condicionava a concessão de parte dos créditos presumidos ao volume de compra de insumos realizados dentro do Estado. De forma ampla, o governo elevará a competitividade da economia gaúcha com medidas que facilitarão a importação de produtos, além da exclusão de alguns itens do regime de substituição tributária e da autorização para transferência de saldos credores para investimentos.


Reforma

A necessidade de recompor as receitas também está relacionada à reforma tributária nacional. As leis complementares que regulamentarão a Emenda Constitucional da reforma estabelecerão um período-base para calcular os recursos destinados aos Estados durante a transição para o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). Isso significa que quanto maior a participação do ICMS de cada Estado nos anos anteriores e posteriores, maior será sua fatia na distribuição. Esse cenário levou vários Estados brasileiros a aumentarem a alíquota modal de ICMS em 2023 e 2024.


Apesar das medidas estruturais adotadas para controlar os gastos e aumentar as receitas, como as reformas administrativa e previdenciária e as privatizações, a arrecadação de ICMS em 2023, proporcionalmente ao produto interno bruto (PIB), ficou em 6,98%, meio ponto percentual abaixo da média dos últimos 20 anos. Em comparação com a receita de ICMS de outros Estados, a participação gaúcha no total diminuiu em 2022, atingindo o menor nível da história, 6,2%.



– Estamos chamando os deputados, as entidades e a sociedade para firmarmos um pacto pelo futuro. Não adianta querermos ter tudo, o menor imposto com a maior quantidade de investimentos não se sustenta. O Estado não vai ser mais competitivo só por conta da alíquota, que ainda será abaixo de muitos Estados. Esse pacote de medidas, que amplia as ações de competitividade e incentivos aos setores produtivos, vai nos permitir um Estado sustentável com investimentos para aumentar a produtividadeafirmou o governador.


Maioria das entidades empresariais é contra o aumento

Apesar de o governo estadual destacar o apoio de entidades empresarias ao aumento da alíquota do ICMS para 19%, nem todas são favoráveis à proposta. A posição da maioria das principais entidades se mostra contrárias à proposta, pelo menos neste momento.

 
A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) apresentou um plano C e chegou a pedir ao governo do Estado que aguardasse até junho antes de decidir pela aumento da alíquota. O motivo é a previsão de alta na arrecadação de cerca de R$ 2 bilhões no trimestre, em relação a 2023.

 
O vice-presidente de Comércio Varejista da Fecomércio-RS, Ademir José da Costa, diz que o governo se precipitou.

 
– Não é simplesmente ser contra, mas vemos que não há necessidade de aumento, ao menos até esperar o fechamento da arrecadação do trimestre – diz.

 
O presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism), Andrei de Lacerda Nunes, ressalta também o aumento da receita do Estado, o que contrapõe o discurso de Eduardo Leite. Nunes alerta que o empresário vai repassar o aumento nos preços.

 
– Isso é muito complicado, porque vai afetar a ponta mais fraca da sociedade – lembra.

 
O deputado estadual Valdeci Oliveira (PT) diz que a bancada do partido irá fazer uma ampla análise a respeito do projeto de lei enviado ontem pelo Executivo antes de anunciar posição:

 
– Registramos que a arrecadação do primeiro trimestre de 2024, as compensações feitas pelo governo Lula em relação às perdas de receitas de 2022 e a nova proposta de renegociação da dívida são elementos que aprofundam esse debate.


O que dizem as entidades

"Já temos um aumento de ICMS, no primeiro trimestre, de aproximadamente R$ 2 bilhões a mais do que comparado ao ano passado. Então essa história de cair a arrecadação não procede. A receita aumentou, inclusive a arrecadação. Outra questão é que o empresário vai repassar esse valor, e isso vai impactar diretamente na vida das pessoas físicas, de quem tem menos condições. Vai aumentar o valor do alimento na mesa, vai encarecer a vida das pessoas. Isso é muito complicado, porque vai afetar a ponta mais fraca da sociedade. Somos contra qualquer tipo de aumento de impostos. Foi proposto pela Fiergs o plano C. É lamentável, porque um governador que foi eleito como um gestor novo toma medidas, vamos dizer assim, não tão modernas. É muito simples aumentar imposto para aumentar a arrecadação, mas não se fala em diminuir gastos, em enxugar despesas do Estado. Não só para o empresário vai afetar a venda, mas esse repasse do imposto também vai afetar aumentar o custo de vida."


Andrei de Lacerda Nunes
Presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism).


“O governador fez uma reunião fechada na quarta-feira com representantes de 30 entidades que, na verdade, não são entidades representativas - a maioria eram grupos empresariais, cooperativas, enfim, que seriam atingidos pelo fim dos subsídios. Federasul, FCDL, AGV, Agas, Fecomércio, Fiergs e outras entidades, que representam 99% das organizações empresariais do Rio Grande do Sul, não foram convidadas para a reunião de quarta-feira. Ontem, o governador chamou os deputados e apresentou as novas razões para que mantenha as alíquotas elevadas. (...). Ainda não tivemos tempo na Fecomércio de analisar, e a gente entende que talvez tenha de esperar os dados econômicos. No último trimestre, a receita estadual vai aumentar em torno de R$ 2 bilhões, ou seja, o Estado está tendo arrecadação maior do que o previsto. Entendemos que o governador está se precipitando. No primeiro momento, não concordamos com a proposta de aumento do alíquota do ICMS de 17% para 19%. Não é simplesmente ser contra, mas vemos que não há necessidade de aumento, ao menos até esperar o fechamento da arrecadação do trimestre.”

 
Ademir José da Costa
Presidente do Sindicato dos Lojistas (Sindilojas) e vice-presidente de Comércio Varejista da Fecomércio-RS.


As medidas do pacto pelo futuro


Regularização de dívidas

  • Cria condições legais para reduzir litígios judiciais, facilitar a continuidade dos negócios e agilizar a recuperação de receitas por meio de acordos entre o Estado e seus devedores. As iniciativas buscarão resolver disputas judiciais complexas e recolher valores de dívidas ativas consideradas de difícil recuperação
  • Os programas de conciliação oferecerão descontos de até 70% dos valores das dívidas, com parcelamento em 145 meses. A estimativa é recuperar R$ 300 milhões em 2024
  • Expansão do programa Nos Conformes RS, que incentiva a regularização tributária com ações de fiscalização orientativa. A iniciativa promoverá e premiará o bom comportamento tributário dos contribuintes e fortalecerá a concorrência justa no mercado, o que contribuirá para a ampliação do investimento privado e garantirá recursos para investimentos estatais

 
Competitividade

  • Inclui o ajuste de parte dos benefícios fiscais concedidos pelo Estado. Uma das medidas prevê a exclusão do Fator de Ajuste de Fruição (FAF), beneficiando 31 setores produtivos. Adotado em 2022, o mecanismo condicionava a concessão de parte dos créditos presumidos ao volume de compra de insumos realizados no Estado
  •  Aumento da competitividade da economia gaúcha com medidas que facilitarão a importação de produtos, além da exclusão de alguns itens do regime de substituição tributária e da autorização para transferência de saldos credores para investimentos


Sustentabilidade fiscal

  • Trata da revisão da alíquota geral do ICSM, recuperando parte das perdas artificial e unilateralmente provocadas por medidas externas. Nesse eixo, entra o aumento da alíquota do ICMS para 19%. A média nacional tributo é de 19,1%.




Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

POR

Marcos Fonseca

marcos.fonseca@diariosm.com.br

TRF4 concede medida protetiva em caso envolvendo violência política contra mulher Anterior

TRF4 concede medida protetiva em caso envolvendo violência política contra mulher

Câmara aprova novas regras para seguro obrigatório de veículos Próximo

Câmara aprova novas regras para seguro obrigatório de veículos

Política